Lições do forum mundial de educação

Moacir Gadotti

Nos anos 90, depois da queda do Império Soviético, a globalização capitalista, com seu “discurso único”, queria selar o fim da história e matar a esperança. Um certo “vazio” ideológico deixou muita gente perplexa, sem chão, sem bandeiras de luta. O Fórum Social Mundial ocupou esse espaço ideológico, reacendeu a esperança da libertação, recolocou a ideologia no palco da história. Os Fóruns prezam a diferença, a diversidade como riqueza da humanidade.
Nos Fóruns, manifesta-se a pluralidade de vozes e de olhares. A multiplicidade de atividades de que são constituídos os Fóruns pode dar a impressão de fragmentação do movimento. Ao contrário, podemos ler essa quantidade de manifestações como a riqueza do movimento que não nos divide, mas nos une numa polifonia de vozes, harmonizadas por uma causa comum.
Fóruns são territórios de autogestão: criando-se os espaços, os movimentos imediatamente os ocupam. Como movimentos, eles têm múltiplas funções: entre outras, eles têm um papel organizativo – nos conhecer melhor, aprender juntos, nos fortalecer – um papel político-reflexivo – descobrir o sentido histórico das nossas experiências – e um papel prospectivo, utópico: realimentar a esperança, a amorosidade e ganhar lucidez e força para a luta.
O Fórum Social Mundial deu origem a outros Fóruns, baseados nos mesmos princípios. Gostaria de fazer uma referência especial ao Fórum Mundial de Educação, movimento no qual venho atuando desde a sua criação, seguindo os passos abertos pelo Fórum Social Mundial.
Realizamos o primeiro FME, em Porto Alegre, em outubro de 2001, 10 meses depois da primeira edição do FSM, com o tema “Educação na era da globalização” e um segundo Fórum durante a realização da terceira edição do FSM, em janeiro de 2003, com o tema “Educação e transformação”. O neoliberalismo concebe a educação como uma mercadoria, reduzindo nossas identidades a meros consumidores, desprezando o espaço público e a dimensão humanista da educação. Em oposição, defendemos a concepção libertadora da educação, a educação como um direito social universal, ligado à condição humana. Defendemos a escola pública de qualidade como direito, em todos os níveis, respeitosa das diferenças, intertranscultural, inclusiva… não como direito isolado da luta por outros direitos, mas como um direito ligado a outros setores e movimentos, como direito de aprender ao longo de toda a vida e não só durante a chamada “idade obrigatória”.
O Fórum Mundial de Educação aprovou, em Porto Alegre, duas Cartas em defesa da educação libertadora, cidadã e da educação popular e propôs a construção coletiva de uma Plataforma Mundial de Educação alternativa aos planos e políticas mundiais de educação como mercadoria. Propondo a descentralização dos eventos em fóruns temáticos e regionais, o FME transformou-se num grande movimento mundial em defesa do direito à educação.
São Paulo celebrará seus 450 anos com um grande Fórum Mundial da Educação Temático, de 1 a 4 de abril deste ano, com o tema: “Educação cidadã para uma cidade educadora”, convergindo para a terceira edição do FME de Porto Alegre, de 28 a 31 de julho de 2004, com o tema: “A educação para um outro mundo possível: construindo uma plataforma de lutas”. 2004 é um ano importante na luta pelo direito à educação.

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