Desafios para um outro mundo possível

Moacir Gadotti

A cidade de São Paulo, de 1 a 4 de abril, estará sediando o maior evento educacional de sua história. Estão sendo esperados mais de 60 mil participantes. E não é para mais. O desafio é grande: uma “outra educação possível”, seguindo os passos do Fórum Social Mundial. Para um outro mundo possível uma outra educação é necessária.
Como podemos enfrentar tamanho desafio? Será apenas um sonho a mais sonhado juntos? Seremos capazes de mudar o mundo? Quantos já tentaram! Quais os caminhos, as estratégias para um outro mundo possível? Estes são os grandes desafios de um Fórum como o São Paulo. Não podemos nos perder em debates locais ou conjunturais que morrem no café da manhã. Nosso desafios é enorme: nosso propósito é mudar o mundo. Nossa tarefa é construir uma Plataforma Mundial de lutas pelo direito à educação, como condição necessária para um outro mundo possível.
Os Fóruns Mundiais (Educação, Saúde, Cultura, Autoridades Locais…), na esteira do Fórum Social Mundial, têm traduzido uma outra lógica de poder, uma lógica de ação em rede, coletiva, solidária e pluralista. Muitos debates foram realizados, muitas faixas foram penduradas no Gigantinho de Porto Alegre, no Mineirinho de Belo Horizonte, em Cartagena, em Mumbai, em Paris, em Uppsala… e em tantos outros lugares. Muitas bandeiras foram erguidas muito alto, pela defesa da vida, da ética, do planeta… Como transformar tudo isso em estratégias coletivas para um outro mundo possível? Como transformar tudo isso em programas viáveis?
Se não soubermos apontar os caminhos possíveis para atingir nosso fim, nossos sonhos serão desmoralizados pelos que sempre querem deixar tudo como está. Uma outra lógica de poder está sendo apontada pelos Movimentos Sociais através de suas ações globais pela justipaz, pela ética na política, pelo consumo ético e solidário que não destrua o planeta. Mas precisamos ainda construir uma infra-estrutura logística de redes em colaboração solidária, sem hierarquias burocráticas, que sejam capazes de organizar a massa de excluídos em movimentos organizados, para que possam, inclusive, participar dos Fóruns.
Os Fóruns, como eventos, têm um papel organizativo, reflexivo, aprendente, propositivo, prospectivo, utópico. Eles não são instituições e, a rigor, nem movimentos. São espaços auto-gestionados de movimentos e de suas causas. Algo ainda não totalmente defino já que está em processo. Um espaço da sociedade civil que nos coloca questões como a escolha entre sermos meros consumidores ou cidadãos ativos, entre sermos promotores da guerra ou protagonistas da paz.
Fóruns são espaços não governamentais, não partidários, não sindicais, não religiosos. São espaços plurais da bio-diversidade, da demo-diversidade. Mas precisamos ir além da manifestação, do manifesto, da proclamação, para construirmos mais programas, mais agendas de lutas.
O Fórum Mundial de Educação de São Paulo quer dar a sua contribuição com uma reflexão séria, organizada, crítica e construtiva em torno de um calendário mundial de lutas contra a globalização neoliberal e a favor da radicalização da democracia, contra a mercantilização da educação e a favor da educação como direito humano universal.

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