Relatoria de mesa-redonda sobre os Eixos Temáticos

Dia 19 de maio de 2007
Local: Universidade Braz Cubas – Mogi das Cruzes

PARTICIPANTES DA MESA

CONFERENCISTAS
Professor Luis Carlos Oliveira
Diretor de Escola Pública e colaborador do Inst. Paulo Freire

Professora Maria Sirley dos Santos
Educadora e autora do Livro Pedagogia da Diversidade

Educadora Isis Lima Soares
Educadora popular integrante do Projeto “Cala-boca já Morreu”

COORDENADOR
Professor Mário Celso Micaeli dos Santos

RELATORIA
Professora Roseneide Aparecida de Souza Faria

SUSTENTABILIDADE

Professor Luis Carlos Oliveira

Diante da realidade do mundo em que vivemos, em que a valorização das pessoas, do meio ambiente, das relações humanas não são considerados valores prioritários, cabe a nós, habitantes da Terra, cuidar para que as futuras gerações possam usufruir de um mundo melhor. E … ao imaginarmos um mundo melhor hoje, nos emerge a idéia da sustentabilidade.
Pensar a sustentabilidade é pensar o coletivo, abdicar do individualismo, do apego à própria condição, voltando o olhar para as pessoas e suas necessidades.
Existem diversas definições de sustentabilidade defendida por vários autores, no entanto, em geral, tais definições prescindem do elemento mais importante: as pessoas. Pouco se preocupa com a sustentabilidade da Terra e sim com a sustentabilidade da economia, dos interesses e do consumo.
A própria idéia de progresso é dirigida para a relação de posse, de poder, aquisição de bens materiais.
Precisamos pensar a sustentabilidade enquanto cultura que se compromete com a existência do outro, enquanto manutenção da cultura própria, conjunto de valores e princípios que regem a vida, ampliando-a para a dimensão do humano.
De forma simbólica, o sistema imperialista inculca no imaginário das pessoas um ideal de cultura, como se esta fosse única, correta e aceitável, excluindo as outras formas de ser e agir. Assim, somos levados ao desejo de poder, ao consumo, a adoção de comportamentos padronizados socialmente aceitáveis. Muitas vezes padrões estes, impostos por outras culturas, de abrangência global, como por exemplo, a imposição de determinado tipo de alimentação por grandes redes de lanchonetes.
Utilizando-se de forças próprias, o sistema capitalista nos induz à valorização da aparência, do poder de compra, do que temos e não da essência, do que somos internamente, criando mecanismos de preconceito e discriminação.
A sustentabilidade requer que tais formas de dominação sejam repensadas, elaborando questionamentos à política, economia, indução ao consumo.
Exige de cada um de nós uma reflexão interna, resultando em clareza a respeito de nossas ações e a serviço de quem elas estão. Para além disto, requer ainda mudança de atitude, ser autor da transformação desde a própria casa até as políticas públicas. É um compromisso com as relações humanas, com o que é imprescindível para a vida e contra um sistema que impõe a cultura própria como forma de manutenção de poder social e econômico.
Portanto a idéia de sustentabilidade passa pelas questões de ordem econômica, política, indo para a preservação do ambiente, sobrevivência do planeta e, principalmente, se concentrando na dimensão humana, buscando a harmonia das relações, as condições essenciais para a vida.
A pedagogia da sustentabilidade pensa, em primeiro momento, nas relações humanas como um todo, na inclusão das pessoas pela lógica do diálogo, do crescimento que estar com o outro proporciona. Implica em não perder a esperança de conseguir a sustentabilidade do planeta, da vida, da perpetuação do gênero humano, indo muito além de uma questão meramente econômica.

DIVERSIDADE

Professora Maria Sirley dos Santos

Estamos vivendo em pleno século das relações, do estímulo à convivência, e no entanto, a convivência com o diferente ainda é uma tarefa complexa. Ainda é difícil aceitar e interagir com aquele considerado diferente da norma, fora dos padrões definidos, por isto é uma arte a convivência com as diferenças.

“…. Narciso vê feio tudo que não é espelho”.

Podemos entender a diversidade como forma de assimilação de realidades plurais, compreensão de que somos diferentes em direito e dignidade, em que se busca uma convivência harmônica pelo princípio de respeito ao outro.
Conviver com as diferenças requer ainda o princípio da SOLIDARIEDADE, a compreensão do outro em sua singularidade, seu modo de ser, pensar e agir, colocar-se no lugar do outro, perceber suas necessidades, estar junto.
Viver a diversidade implica em disponibilidade para conhecer o outro, aproximar-se, dialogar olhando nos olhos, conhecer o que está do lado de dentro, sem preconceitos.
A prática efetiva da solidariedade humana só encontra possibilidades de se concretizar onde existir a democracia, e, neste sentido o Brasil é favorecido.
No mundo globalizado, em que o volume e circulação da informação é cada vez maior e mais acelerado, há que se desenvolver o pensamento crítico, o questionamento da informação, de modo a não recebê-la em forma de verdade.
O desafio não é somente conviver com as diferenças da realidade local de cada um, mas a convivência com a diversidade cultural dos grupos, comunidades, cidades, países. O Brasil é um país que acolhe as diversas nacionalidades, recebe bem o imigrante, não só convive como assimila parte de suas culturas. Infelizmente esta não é a realidade global, principalmente nas grandes nações que ditam normas e padrões para o resto do mundo. Conhecer, aceitar e conviver com diferentes culturas constitui-se hoje em um princípio ético, condição do gênero humano e condição para nossa sobrevivência.
Na educação, a diversidade é tratada, vivida e aceita, quando as concepções de ensino, metodologias e estratégias estão voltadas ao aluno e suas necessidades, permitindo que a aprendizagem de fato se concretize.
A escola, como espaço de múltiplas relações e ambientes de aprendizagem, ainda precisa superar mecanismos de discriminação e manutenção de padrões pré-estabelecidos, precisa desvencilhar-se de normas e idéias cristalizadas que, ao deparar-se com o diferente, segrega e exclui, por não adequar-se aos seus próprios padrões.
Tratar o diferente na escola significa reconhecer a diversidade ao planejar, ao propor situações de aprendizagem, conferir mais flexibilidade ao currículo, favorecer a formação de grupos heterogêneos reconhecendo a necessidade e importância dessa interação, valorizar as diferenças, o diálogo e o conflito de idéias como forma de crescimento e não obstáculo à aprendizagem.
Alguns princípios devem ser levados em consideração para a escola que reconhece e trata a diversidade como uma realidade:

- Valorizar o aprender, enxergando o ato ensinar a serviço daquele que aprende,
- Reconhecer que a capacidade de aprender existe em todas as pessoas, portanto todos são capazes de aprender em seu ritmo;
- Favorecer espaço e momentos permanentes de diálogo e cooperação entre todos os envolvidos no processo educativo;
- Garantir a formação permanente do professor, ouvindo suas necessidades, compartilhando suas experiências;
- Concepção de ensino e avaliação que considera o erro como produto e processo não somente do aluno, mas também de quem ensina.
- Valorizar os conhecimentos e experiências trazidos pelos alunos

Enfim, a escola precisa viver a Pedagogia da diversidade, a pedagogia do humano, que reconhece e respeita as possibilidades de aprender de cada um na sua individualidade, e, portanto o aceita e cria condições para seu desenvolvimento.

PROTAGONISMO

Educadora Isis Lima Soares

Ao iniciar a conceituação do que seja protagonismo, podemos tomar como exemplo uma experiência ocorrida no Fórum Mundial de Educação de 2004, em que tivemos a realização simultânea do Fórum da Infância e Juventude.
Naquele momento nascia o desejo de inserir a criança e o adolescente no ambiente de discussões do Fórum, pois em geral tais eventos não apresentavam espaço para estes grupos.
A idéia era de que crianças e adolescentes, enquanto sujeitos de direitos, se conversassem, discutissem sua concepção de educação, expressassem seus saberes, sentimentos em relação às questões propostas para discutir a educação. Além disso, propor o diálogo da juventude com o mundo adulto favorecendo esta interação que se acreditava ser perfeitamente possível e necessária, promover o falar, o ouvir, a participação do jovem e todos os seus anseios em um ambiente, até então destinado à participação do adulto.
Sabemos que pela criança e adolescente há muito mais a fazer, como permitir que sejam protagonistas não apenas em situações pontuais e eventos, mas que possam exercer o protagonismo no seu cotidiano, nos espaços onde habitam, o que, infelizmente, nem sempre acontece.
Outra experiência, realizada pelo Projeto “Cala-boca já morreu”, trabalha com as crianças, inserindo-as no contexto social por meio da produção e criação de mídias na forma de jornal, rádio, vídeos, etc. O processo de elaboração das mídias implica em estudo dos temas que se quer abordar, ênfases que se quer dar, estratégias de elaboração, tipo de mídia a explorar, seu conteúdo e forma de expressão do mesmo. Valoriza-se de forma especial o processo de criação pelo estímulo à participação, ao debate, ao diálogo e, com isso o pensar o mundo, a sua existência.
Desta forma, ao tentarmos definir o protagonismo, temos nestes relatos um exemplo onde a criança e o jovem têm a oportunidade de protagonizar a própria história, entendendo o protagonismo enquanto participação, oportunidade de convivência, de fazer parte, expressão de idéias e de diálogo.
O protagonismo implica em oportunizar às pessoas condições para que sejam sujeitos de sua existência, que tenham espaço, sejam ouvidas, enfim, implica na inclusão do outro em sua forma de ser, pensar, sentir e agir.

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